L. Szondi


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CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA ANÁLISE DO DESTINO

FUNDAMENTAL CONCEPTS OF FATE ANALYSIS

 
Alois Altenweger
Annie Berner
Karl Bürgi
Friedjung Jüttner
Margrit Kramer


Tradução do Espanhol: Elisa Del Rosario Ugarte Verduguez

Revisão: Neide Almeida Lima

Núcleo de Estudo Szondiano Brasileiro

 

Nós, analistas do destino, estamos convencidos de que a Análise do Destino pode oferecer ao homem de hoje uma valiosa ajuda nas suas necessidades, como na solidão, mudanças de consciência ou angústia existencial.

Em seguida exporemos esta psicologia, de cuja teoria e prática escolhemos três pontos básicos:

1.      O quadro humano da Análise do Destino

2.      A teoria da doença na Análise do Destino

3.      A terapia da Análise do Destino.

“ O destino, agora sei, não vem de parte alguma, se desenvolve no interior de cada um” ( Hermann Hesse)

 

1.                   O quadro Humano da Análise do Destino

 

1.1.       Destino

Leopoldo Szondi usou a palavra “destino” como ponto central da sua psicologia, já que nela encontrou tudo o que aciona e sintetiza a vida de um homem, de uma maneira semelhante aos conceitos básicos de arquétipos ou existência.

No oriente a palavra “destino” era entendida quase que unanimemente como a ação de uma força ininfluenciável. Na Psicologia do Destino não é assim. Aqui se concebe o homem como um ser, que desde o princípio é arrastado, compelido na sua vida, mas que, com a maturação, tem a oportunidade de escolher entre suas possibilidades e com isso realizar a sua liberdade. Por isso a Psicologia do Destino distingue entre destino obrigado (coercitivo) e destino livre.

 

1.1.1.        O destino obrigado

O destino obrigado de um homem pertence à herança, ou seja, tudo o que lhe foi passado por seus progenitores. Atualmente encontramos nova confirmação da teoria da herança em muitos dados dos pesquisadores. A teoria genética formulada por Szondi, isto é, a maneira como temos que entender essa teoria, não ultrapassa, na sua simplicidade, o estandarte dos conhecimentos atuais.

A natureza pulsional e afetiva de um homem é também parte do seu destino obrigado. Daqui supõe a Psicologia do Destino que todo homem está equipado com as mesmas necessidades básicas, mesmo que, contudo, se considerem as características familiares ou pessoais que o distingam dos homens em geral e dos membros da família em particular, e que o diferenciem nas suas habilidades e necessidades.

O ambiente, ao lado da herança, também influencia o destino obrigado de um homem. Um papel inegável desempenha o ambiente social, no qual uma criança se desenvolve ligada ao status material e profissional que goza sua família na sociedade. O mesmo vale para o ambiente intelectual, isto é, a concepção política e religiosa do mundo, o grau de formação e de possibilidades de educação que uma família pode possibilitar a seus filhos.

 

1.1.2.        O destino livre

Ainda que os chamados fatores do destino obrigado não possam ser totalmente superados, isto não impediu Szondi de desenvolver uma psicologia da liberdade humana. A essência do anímico consiste, para ele, no impulso do homem para a liberdade. Este impulso já tem funções circunscritas no ego para revelar a ação e desenvolvimento das suas possibilidades. Graças às suas capacidades, o homem não é nem escravo da sua natureza, nem joguete do seu ambiente. Mesmo que nunca possa perceber totalmente o uso de suas possibilidades, é, no entanto, um ser, a este respeito, tanto de compulsão como de liberdade. Para chegar a alcançar uma liberdade cada vez maior, é necessário uma relação coma mais alta instância, o espírito. “ O mundo do espírito é sobrenatural e transpessoal” (além do pessoal). Em outro lugar Szondi cita a Bíblia e diz: “Deus é espírito”. Com isso está expresso o religioso dentro da Psicologia do Destino, já que a realização da liberdade humana é considerada como dependente do reconhecimento do espírito como o que ordena, e dá sentido ao princípio do ser no homem.

  

1.2                Dialética e troca

Os impulsos em duração à liberdade e à compulsão são os fatores que condicionam o destino do homem.

As polaridades psíquicas e suas possibilidades de troca constituem a dinâmica formadora, Szondi cita estes pensamentos naquilo que chama “fórum giratório da vida”. Em vários textos diz: A ideia de destino é dialética, isto é, se move sempre entre contrários e opostos, e não se a concebe como imóvel nem estacionária.

As seis funções vitais, condicionadas e configuradas pelo destino, se movimentam normalmente, sempre uma em direção à outra e uma contra a outra. Com isso se muda o destino,  no transcurso do tempo, na sua forma de aparecer. como no teatro, em que as cenas da peça se movem num fórum giratório, assim se movimenta o destino no foro da vida individual. Se o destino se cristalizar  em algum lugar determinado deste fórum giratório da vida, se tornará destino obrigado. Se pelo contrário, com a ajuda do espírito, for capaz de ir contra a ação cristalizadora (petrificadora) do destino obrigatório, condicionante das funções que impedem o voltar a colocar em movimento o fórum giratório, se pode, sob circunstâncias favoráveis, chegar a ter um destino livre.

O homem é um doente quando separa as polaridades, as dualiza e as vive como contrários irreconciliáveis. A terapia o levaria a colocar em contato as duas partes separadas da personalidade e integrá-las numa totalidade anímica.

 

1.3.       Totalidade

Com o princípio da dialética não só se introduz a idéia de dinamismo e de mudança, mas, com isso, se conecta o pensamento de unidade envolvendo o de totalidade. Quer para os autores do antigo “Livro Chinês das Mutações” (I Ching), para a ciência taoísta, e mais tarde para o filósofo Heráclito, a realidade se compunha da união dos contrários. O Ser, para eles, era um ser de contrários (opostos). Entretanto, mediante os opostos volta a juntar-se o todo. “Ciompi” fala de ubiquidade de estruturas polarmente opostas. Szondi reúne assim setes pensamentos:

“Em geral chamamos dialética anímica aquela ação conjunta de funções psíquicas contrárias que condicionam e sustentam a unidade da alma”.

Com a totalidade, se dá também a globalização. A Psicologia do Destino se aproxima do homem na sua totalidade em três níveis existenciais: o Bio-psicológico (herança, natureza pulsional e afetiva), Social-psicológico (ambiente mental e social) e Ego-psicológico (eu e espírito). No idioma dos autores isto se expressa mais fácil e compreensível: “Quem é você? Diz ª Huxley, “depende de três fatores: O que você herdou, o que o ambiente fez de você, e o que sua livre escolha fez desse ambiente e desta herança”.

Todas as ciências que se preocupam com o homem, se organizam mais ou menos nestes três campos e portanto são muito significativas para os psicólogos do destino; para o campo da biologia: médicos, geneticistas, psico-biólogos, psicossomática, etologia; para o campo social: teorias sociais para macro e micro estruturas, como a família e o casamento e, finalmente as doutrinas filosóficas e psicológicas sobre o eu humano, assim como alguns aspectos da teologia e da religião.

Chamar de totalidade é, assim mesmo, a posição integradora de Szondi frente a outras Psicologias.

Assim é considerada a sua Análise do Destino, como um complemento das teorias consideradas como básicas: A Psicanálise (S. Freud) e a Psicologia Analítica (C. G. Jung). Ele defende uma psicologia profunda, “unida”, sem precisar anular as diferenças.

 

1.4.       Conceito de Destino Obrigado

O que a psicologia do destino traz como complementação, são os conceitos de destino obrigado e do destino livre.

 

1.4.1.          O Inconsciente Familiar

 1.4.1.2.      Impulsos dos antepassados como conteúdo do inconsciente familiar     

O inconsciente pessoal, descoberto por Freud, que se manifesta principalmente por sintomas, e o inconsciente coletivo explorado por Jung, cuja linguagem é especialmente o símbolo, foi complementado agora por Szondi com o inconsciente familiar. Este inconsciente familiar serve metaforicamente para o lugar onde se encontra, por assim dizer, a herança familiar do homem.

Szondi fala dos impulsos dos antepassados. A Análise do Destino entende por impulsos dos antepassados a meta final de uma figura antepassada na vida de um descendente para retornar à mesma forma de existência, que existiu uma vez na história familiar, e ai realizá-la.

A palavra que soa mitologicamente “Antepassado”, pode, nesse conceito, tomar-se como psicológica, e falar dela num sentido familiar, condicionado a necessidades dentro da dialética pulsional. Ainda que alguma figura antepassada pudesse manifestar-se em determinado destino, o portador desse impulso tem, apesar disso, várias possibilidades de destino ou de existência.   

A Psicologia do Destino pode afastar todo o fatalismo, porque o homem tem a possibilidade de escolher entre as potencialidades (possibilidades) que lhe forem dadas. Assim, um antepassado pode manifestar-se como doença numa escolha obrigatória. Entretanto, se o homem conhece esse perigo pode escolher conscientemente, às vezes o faz também inconscientemente, alguma atividade profissional, por exemplo, na qual socialize esta necessidade, que de outra maneira o adoeceria.

 1.4.1.2.            A escolha como maneira de trabalhar o inconsciente familiar

A escolha é propriamente a linguagem do inconsciente familiar, como no provérbio: “ A escolha faz o destino”. Aqui, a Psicologia do Destino tem desenvolvido uma regra, que chama genetropismo. Entende por isso a atração mútua entre pessoas unidas pela herança.

O genetropismo, ou a escolha explicada pelo inconsciente familiar, observa-se principalmente em cinco campos diferentes da vida:

·         Na escolha do companheiro amoroso.

·         Na escolha da amizade.

·         Na escolha da profissão ou hobby.

·         Na escolha da doença.

·         Na escolha da morte, como por exemplo, no suicídio.

 

1.4.2.     O sistema pulsional

Os elementos essenciais da estrutura do sistema pulsional são as necessidades e não, como poderia supor-se, as pulsões. Nisto, há no momento uma discussão dos significados do conceito de pulsão.

Existem oito necessidades que Szondi entende como radicais, no sentido da redução fenomenológica dada por Husserl: todo processo individual pensável do destino está voltado a estes fatores raízes.

Estes dados são descritos por Szondi da seguinte forma: “Assim foi possível criar, sob forma de categorias, as relações essenciais mais importantes no aparecimento destes radicais do destino, os quais foram liberados de suas particularidades, são a essência do destino e seus radicais”.

Szondi reuniu cada dois destes oito fatores-raiz ou necessidades em uma pulsão.

Cada mesma necessidade, correspondendo ao princípio da dialética, é dividida em duas tendências polares. Portanto, a estrutura deste (sistema pulsional) consta de quatro pulsões ou instintos, oito necessidades  (ou fatores-raiz)  e  dezesseis   tendências  e,  portanto,    uma   relação  de   tensão  dialética não somente nele e dentro das necessidades particulares, mas que a encontramos também entre os quatro instintos.

O conteúdo do sistema pulsional compreende:

O instinto sexual que consiste na ação conjunta das necessidades de ternura sensível e sublimada, tanto na atividade como na entrega.

O instinto de surpresa que está formado por duas necessidades : as reações como a impulsividade, raiva, angustia e sentido de justiça, assim como a vergonha e o impulso de fazer valer.

O impulso do ego que está determinado por ambas as necessidades: tanto de Ser como de Ter. As tendências destas necessidades se chamam projeção (participação), inflação, introjeção e negação.

O instinto de contato finalmente, engloba as necessidades de unir-se e separar-se, assim como mudar ou permanecer.

 

1.5.                     Conceito de Destino Livre

 1.5.1.                 O Ego Pontífice

Ao lado do instinto do eu com suas quatro funções, Szondi introduziu um Ego ainda mais superior, “um ego metafísico”, como ele o chamou, é ele o ponto culminante dos opostos, porque torna possível as funções do homem a ele circunscritas: o libertar e integrar os opostos. Este ego pontífice recebe sua força da parte biológica do homem e opera conjuntamente com a pulsão do ego, que o está determinando. No ego pontífice está o potencial da liberdade humana, mediante a qual pode vencer as particularidades apontadas pelo destino obrigado.

 1.5.2.                 Tornar-se homem

Em relação com a dialética, já falamos da capacidade de troca na existência humana. Conforme  a ação das funções do ego pontífice esta mobilidade do homem obtém uma finalidade e encontra um sentido. Quando este processo se encaminha para uma liberdade sempre maior no indivíduo e na sociedade, se realiza então o tornar-se humano.

Como nas filosofias orientais, também na Psicologia do Destino a mudança já é a meta. Quando mudamos, a frase já citada muitas vezes “A escolha faz o destino” no nosso tema da liberdade, podemos então dizer com Szondi:

“O destino livre do homem se chama a escolha de tornar-se homem”.

 1.6.                     A Perspectiva da Análise do Destino em gerações ulteriores

A herança familiar aparece muitas vezes como destino nas escolhas aparentemente individuais, na escolha do parceiro, da amizade, da profissão, da doença e da morte. Na perspectiva das gerações ulteriores se tornam visíveis constelações de relações e recursos que se atraíram por gerações.

“O inconsciente familiar forma uma rede invisível, que encerra de forma vertical a todos os membros de uma família, e desde gerações os envolve num nível inconsciente de destino. Da mesma forma age de forma horizontal, com todos os membros vivos da família em uma rede afetiva muito profunda.Assim, a análise do destino considera o homem não como um indivíduo isolado, mas enraizado no contexto visível e invisível que o acompanha por toda a vida, no seu futuro e no daqueles que virão.

Somos portadores e participantes de uma co-evolução familiar, e administradores existenciais de uma herança familiar de cuja sustentação, desenvolvimento e continuação somos responsáveis.

Tomar esta responsabilidade torna possível o sentido da vida e a consciência de uma identidade e solidariedade familiares. No entanto, se o que se espera deste processo é tomado inconscientemente e é vivido como uma obrigação cega, se impede e no final se diminui a realização e desenvolvimento do membro familiar, já que com isso cairia no destino familiar obrigado que herdou daquilo que viveu, e não poderia viver sua própria vida, a não ser seguir cegamente e repetir o padrão familiar.

 Essa pessoa pode contagiar gerações com seu dever de “lealdade inconsciente”, enquanto resolve e arruma sua vida. Tal maneira de ser encarregado e portador se chama, no sentido restrito, destino obrigado: o conservar a comprometida tarefa dos pais, avós e outros antepassados, por toda uma vida, pagar um preço excessivo pelos dons e possibilidades individuais, ou criar um conflito de lealdade com os conteúdos de outras ordens familiares que são incompatíveis.

 Devem viver algo como encarregados, pois os antepassados que deram as ordens não obtiveram êxito em suas vidas. Neste caso, a Análise do Destino chama de destino obrigado ou compulsão a repetir.

O terapeuta do destino sabe, naturalmente também, que assumir as ordens e obrigações dos antepassados na parte boa da vida dá ao indivíduo um sentido de estabilidade, um sentimento de  identidade e continuidade (identificação familiar, segundo Szondi). Isto ocorre quando as tarefas são conscientes e responsáveis conforme as próprias possibilidades. Se é assim, o terapeuta do destino fala de liberdade ou de destino escolhido.

Sob o ponto de vista das gerações ulteriores, a Psicologia do Destino concebe o homem desde suas necessidades e os afetos que as acompanham, na sua forma genética e específica, e nas transgressões que formam juntas o destino pulsional e afetivo.

O destino social se mostra na dispersão do abuso geracional, na formação sócio-econômica,  no formar e influenciar o homem. A herança ideológica familiar conservada por gerações, com seus valores ideais e regras de vida, concepção do mundo e tradições, formam o ponto de partida do destino mental. A própria possibilidade da fome, por gerações encorajada ou impedida de participar de uma dimensão do ser espiritual ou transpessoal, forma a base do destino de crer ou destino espiritual.

O homem que toma uma posição consciente, através da união do ego com o espírito de seus destinos herdados, pulsionais, sociais e mentais, vive um ego de escolha e um destino livre.

 2.         A patologia na Análise do Destino

2.1.                 Possibilidades de destinos saudáveis ou doentios

Freud viu a causa das doenças mentais principalmente nas necessidades instintivas reprimidas, ou seja, nos conteúdos do inconsciente pessoal. Jung escolheu assim o “sem sentido e sem objetivo da vida”, como a neurose geral do nosso tempo. Adler considerou novamente a doença como resistência contra os estímulos da sociedade. Szondi não trata de desprezar essas maneiras de pensar, mas de completá-las. Portanto, ele considera a possibilidade das doenças mentais não de uma maneira unilateral, mas como “o destino total”, isto é, com todos os fatores condicionantes do destino.

A essência da doutrina da doença se expressa segundo o que se entende por saúde e doença. A Análise do Destino parte da suposição de que toda doença mental está em relação com um destino saudável, isto é, humanizado e socializado.

Baseado nos antigos quatro círculos das doenças mentais herdados da história da psiquiatria (doenças sexuais, sofrimentos paroxismais, esquizofrenia e doença maníaco-depressiva), Szondi fala  novamente de quatro círculos do destino, com suas formas sãs e doentias a elas subordinadas.

A Análise do Destino concebe as doenças mentais em primeiro lugar como “doenças do destino”, com  perigos dinâmico pulsionais específicos, mecanismos de defesa constituídos de sintomas como “saídas de emergência”.

Segundo Szondi, o modo como o homem maneja suas polaridades anímicas, se é dominado por elas por exemplo, determina o destino do indivíduo e da sociedade. O homem é saudável quando mantém suas polaridades anímicas numa dialética dinâmica uma contra a outra, em certo equilíbrio e consegue distinguí-las numa totalidade. O homem é um doente quando separa as polaridades, as dualiza e as vive como contradições irreconciliáveis.

A terapia conduz ao colocar em contato as duas partes separadas da personalidade e integrá-las numa totalidade anímica.

 

2.2.                 Distribuição do Poder Ser

Enquanto o homem saudável se caracteriza por conseguir dispor flexivelmente das funções do seu ego, o homem doentio tem como característica o atuar de uma maneira lenta e crônica.

Szondi concebe um destino da vida como sistematicamente danificado na maneira específica de atuar de uma ou várias funções do seu ego, na chamada “órbita do eu”. Portanto, concentra o diagnóstico do destino psicológico num bloqueio efetivo, perda das funções do ego e das funções em outros domínios da vida. Centrar o ego, de uma maneira unilateral, rígida, imóvel, que impeça a vida de uma ou de algumas funções, Szondi considera como uma distribuição doentia do “poder ser”, isto é, da distribuição dos interesses e voltar para o ego as idéias e os conceitos dos objetos.

Mediante uma distribuição orientada para fora do “poder ser” se encontra a herança em união com os antepassados, o lado afetivo e pulsional do homem, o ambiente social e o mundo atual em uma fase de desenvolvimento e de futuros interesses.

Se o homem transfere seus interesses unilateralmente à herança e ao passado familiar, cai facilmente sob o domínio do destino obrigado, frequentemente em formas de racismo, de nacionalismo ou esclarecimento de sua genealogia.

Se a vida do homem cair em todos esses desvios, viverá seu destino obrigado de inconsistência e de um caráter instintivo. Se o ambiente se mantém nessa posição, pela distribuição de sua força de ser, cairá o homem, por seu destino obrigado, numa neurose de caráter social (segundo Erich Fromm). Se o homem dá preponderância à sua razão, decai a um racionalismo frio. Se a força de ser ganha no mundo das idéias e do espírito, o homem perde o chão debaixo dos seus pés. Se o ego monopolizar toda a força de poder em si, o homem se infla até crer-se um pseudo Deus.

 

3.                      A terapia do Destino

3.1.                 Diagnóstico Destinoanalítico

O diagnóstico destinoanalítico serve para conhecer as possibilidades de padrões de vida e projetos dos destinos pessoais, familiares e coletivos, depositários de proteção e defesa, formação do caráter, doenças e maneiras de morrer familiarmente tradicionais, de resolver conflitos, a obtenção de bem estar, assim como as possibilidades de sublimação, socialização e humanização.

3.1.1.             Anamnese

Para levantar a anamnese clínica vale, segundo Szondi, o prestar a atenção na anamnese familiar genealógica, a história familiar, o estilo de vida, as relações concretas da vida, as tradições profissionais, as aptidões, os interesses, as doenças corporais e mentais, idade de vida, causas de morte, invalidez, disputas, “lutas” por herança, relações de dominância na família, movimentos migratórios e lugares de permanência dos membros da família, separações, divórcios, adoções, troca de religião.

Para avaliar os recursos familiares, o diagnosticador do destino se interessa pelas fases do ciclo vital de uma família, e se suas necessidades específicas foram violentas.

Da história da vida, detalhadamente escrita, trata de extrair as primeiras indicações que atuam no destino do membro particular da família, as regras da vida que o influenciam, a escala de valores, desejos, maldições, papéis destinados e expectativas, as opressões, os legados (heranças), coalizões irreconciliáveis, segredos familiares, mitos e auto-retratos.

3.1.2.             Árvore Genealógica

Os dados genealógicos da anamnese familiar serão organizados numa arvore (genograma), que chegará até a terceira geração, com os dados correspondentes sobre os esposos e amigos, isto é, os parentes escolhidos pelo membro familiar.

Se a árvore genealógica fosse refeita (reconstruída) e desenhada pelo probando, a estrutura visual e a apreciação pessoal ganhariam em valor diagnóstico. Já que  dessa reunião (agrupamento) e do tipo de determinados sofrimentos, o analista do destino tira os dados para as indicações e para o prognóstico.

3.1.3.             Teste de Szondi, folha de respostas e instrumento de diagnóstico

O teste de Szondi é um processo de escolha e se considera como teste projetivo. Compreende seis séries de fotos, cada uma com oito retratos de pessoas pulsionalmente doentes, são no total quarenta e oito fotografias.

Os retratos valem como representantes das oito necessidades básicas do sistema pulsional. De cada série se escolhem os dois mais simpáticos e os dois mais antipáticos. A escolha tem êxito como amostra da identificação e contra-identificação.

É decisivo para o funcionamento do teste, como folha de resposta, a coincidência significativa e a multiplicidade de significado da diversidade das amostras que foram criadas por Szondi, como testemunhos funcionais do teste de conteúdo inespecífico.

A folha de respostas conduz  aquele que pede conselho, seja por ouvir ou ler o conteúdo geral da avaliação do teste que, contudo, soa específica sem estar consciente disso, a traduzir e a associar inconfundivelmente à sua vida pessoal e à história de seus sofrimentos.

Mediante a afinidade entre o diagnosticador do destino e o paciente, a folha de respostas introduz um processo cognitivo e emocional de auto questionamento e auto reflexão, que, num passo ulterior pode levar a uma forma chamada por Szondi “terapia breve baseada no teste de Szondi”. Com isso traz o teste o que está no mais profundo das quatro regiões da vida (vetores) em ordem e perspectiva, no relato e formulação da história da vida e dos sofrimentos O teste como instrumento diagnóstico procede do sistema pulsional  destino-psicológico, a dinâmica inconsciente pulsional e do ego, que sempre compreende as trocas polar-dialéticas e a essência da vida saudável e doentia em seu processamento.

Assim o diagnóstico destino psicológico não se dirige somente à descrição dos quadros clínicos e a um diagnóstico estático, mas à concepção dinâmico pulsional do processo e curso da doença.

O teste de Szondi chega de uma maneira especial à tradução dos termos dinâmicos e constelações em síndromes. Com isso o diagnosticador tem a possibilidade, com a ajuda do teste, de determinar de uma maneira exata as fases particulares do processo de adoecer, e de separá-las sintomaticamente.

Com a suposição de que cada forma existencial e de destino saudável está em estreita relação com alguma doença mental, o teste de Szondi não só descobre os perigos dinâmico pulsionais, como também as possibilidades humanizantes e socializantes atuais ou eventualmente em latência.

Para avaliar as possibilidades existenciais que se fizerem visíveis, e desenvolver sua manifestação, existem métodos diferenciados chamados métodos complementares. Com eles podem ser conhecidas as possibilidades de existência e de destino passados, presentes e futuros, observados umas e outros em sua ação conjunta e julgadas na relação de umas com as outras.. O teste de Szondi também representa um instrumento com cuja ajuda o analista pode avaliar, antes de começar a psicoterapia, se está indicada uma terapia analítica e que prognóstico terá.

O próprio Szondi viu o funcionamento do seu teste fundamentado somente na sua teoria geneticamente formulada a respeito da escolha do objeto.

Mudanças ulteriores na compreensão das suposições psicobiológicas fundamentais da Psicologia do Destino, trouxeram outras correlações básicas ainda não elaboradas para a ação (movimento) do teste de Szondi.

Traremos novamente para nossa atenção: pertence aos postulados supostos por Szondi para a eficácia do seu teste que os retratos dos doentes psiquiátricos irradiam uma determinada energia pulsional com um forte caráter provocador. Daí a pergunta: qual é o tipo de ressonância com que reage a pessoa quando escolhe uma foto como simpática ou como antipática?

Considerações comparativas levaram à suposição que, quando uma pessoa se defrontava ao modelo pulsional Szondiano tocava as polaridades e os campos de energia entre os pólos.

Szondi estudou as questões energético-físicas em relação com seu sistema pulsional: implicavam num campo de energia psíquica, cuja dinâmica e relações de tensão tocavam por fim a individualidade psíquica, mesmo que também criassem a capacidade de mudar e de tomar forma do homem. Assim, por exemplo, o bloqueio dos campos de energia  pode levar às  formas variadas de manifestação dos distúrbios psíquicos, um fato testológico que Szondi pôde ilustrar com numerosos exemplos na prática.

Parece plausível, com relação a isto, o modelo e teoria do campo do “campo morfogênico” do biólogo Rupert Sheldrake, 1983-94; Berna, 1989. Ele diz que estes campos, que dominam energias e que dão forma e estabilizam estes, são significativos para a totalidade das fases do desenvolvimento da matéria orgânica e inorgânica, e que ampliam a atividade destes campos morfogenéticos  a amostras de conduta, instintos e processos de aprendizagem. A ação destes campos, isto é, dizer sobre como atuam as informações imanentes nos homens, Sheldrake os chama de “ressonância mórfica”. Ressonância porque as informações de campo que são iguais ou semelhantes nos homens atuam reforçadas.

Assim a foto nos dá uma indicação de como é percebida e irradiada “num sentido superior” esta ressonância “mórfica”: na região do rosto especialmente na parte dos olhos; relações que já eram conhecidas pelos fisionomistas gregos e foram redescobertas na investigação sobre os recém-nascidos (Spitz – 1970).

O teste de Szondi pode consequentemente “medir” a irradiação da pessoa probanda ao examinar as fotos sob a influência dessa ressonância e portanto reagir de forma defensiva ou receptivamente.

As teses de Sheldrake são aqui somente um exemplo daquilo que se pode encontrar na investigação atual das ciências da natureza, princípios desconcertantes, que com base teórica em parte adiantada, possam formular-se de novo na prática por meio do funcionamento do teste e igualmente aprofundar campos e modelos de energia com as polaridades de Szondi.

 3.1.4.             O teste da eleição profissional de Achtnich

Um campo importante do desenvolvimento da Psicologia do Destino é apresentado por Martin Achtnich (1979) com seu teste profissional de fotografias (BBT).

Como no teste de Szondi, se trata de um teste de escolha de fotografias. As fotos mostram profissionais nos seus trabalhos. As fotos são escolhidas de acordo com a atividade que seja agradável ou desagradável ao probando, ou lhe seja indiferente.

Achtnich baseou-se para a construção do seu teste nas oito necessidades básicas Szondianas (fatores raiz ou radicais), sob diferentes denominações distributivas e psicológico profissionais, como princípios de tendências que se agrupam e se misturam reciprocamente. O teste profissional se baseia essencialmente na relação encontrada por Szondi entre determinadas necessidades e a eleição conforme a escolha das fotografias, tornando visível a estrutura original das inclinações.

O teste da escolha profissional é um instrumento para a orientação profissional dos jovens e a orientação para a carreira dos adultos.

 3.2                   A terapia Destinoanalítica

Szondi estava consciente de que uma parte importante do destino obrigado está enraizada no campo pessoal biográfico, que pertence ao inconsciente pessoal de Freud. É, portanto, evidente para a análise do destino o estabelecimento de métodos psicoanalíticos para trabalhar aquela parte do destino obrigado que se baseia no inconsciente pessoal. Do mesmo modo age com aquelas formas do destino baseadas no inconsciente coletivo de Jung.

 3.2.1.               Indicação

Uma terapia destinoanalítica aparece indicada, em sentido restrito, para aquelas pessoas que buscam ajuda por suas vivências e porque se deram conta de que não levam uma vida própria, mas que se sentem compelidas a repetir os padrões de seus antepassados; ou em alguma outra  forma de sofrimento que vem da história de conflitos de sua vida pessoal.

Quando se observa na anamnese ou na árvore genealógica um acúmulo de sofrimentos genealógicos iguais ou formas de socialização dinâmico-pulsionalmente aparentadas, é quando o conselheiro ou o psicoterapeuta pode indicar uma terapia destinoanalítica.

 Também na Psicologia do Destino podem ser reconhecidos alguns conteúdos dos sonhos como “sonhos de antepassados” e são uma indicação importante de que no processo da terapia deve-se considerar aspectos destino analíticos.

 3.3.                   Estabelecer Metas

Na terapia destinoanalítica se trata de libertar o homem de seu destino obrigado e de conduzi-lo a um destino escolhido de liberdade.

Na terapia do destino, no sentido restrito, vale perguntar o seguinte a quem sofre do destino familiar obrigado:

·         Qual é o meu destino obrigado?

·         O que não quero, de nenhum jeito continuar? (negação familiar).

·         O que gostaria de modificar das unilateralidades e exageros da família?

·         Como gostaria de adaptar minha vida individual no contexto da herança familiar? (destino escolhido)

Já que o homem  doente de seu destino se limita muito fortemente em suas possibilidades, a terapia destinoanalítica lhe dá coragem para ter novos pontos de vista, avaliar e socializar.

A terapia destinoanalítica trata de ativar a individuação daqueles que buscam orientação e ajuda. Isto melhora a reconciliação das famílias.

 3.4.                   Terapia Destinoanalítica no sentido mais concreto – Métodos e Técnicas

Seria demasiado simples querer abranger a terapia do destino com métodos e técnicas de uma maneira exaustiva, já que para alcançar as metas fixadas os terapeutas dispõem de uma grande variedades destes. São muitas as técnicas de terapia que Szondi mesmo desenvolveu de forma criativa e muitas vezes espontâneas para que pudessem ser nomeadas.

Muitas das técnicas inovadoras que se originaram do campo pré analítico de Szondi, de sua pedagogia terapêutica e da sua prática neurológica, hoje são praticadas em várias direções terapêuticas.

Ao lado das técnicas psicanalíticas Szondi usou, para alcançar uma maior liberdade de escolhas, outros métodos não analíticos, nem psicológicos profundos no sentido mais restrito, para os quais desenvolveu diferentes conceitos como “terapia psicagógica breve”, “psicagogia destinoanalítica” e “psicossíntese”. Segundo Szondi estas designações significam “terapias destinoanalíticas” que representam uma “mudança legítima” das técnicas psicanalíticas clássicas. Tais mudanças vão extraordinariamente longe! Mencionamos - os diálogos que Szondi desenvolveu durante as terapias com o propósito psicopedagógico e os rituais terapêuticos no campo das terapias de participação, o estimular as transferências de espelho no sentido de Balint - no tratamento de distúrbios básicos.

No menosprezo clássico dos limites geracionais em famílias muito aprisionadas, Szondi intervém por exemplo, com seu programa estratégico diretivo de desimaginação, outra técnica diretiva que deve ser usada nas vivências agudas de perda, introjeção do objeto perdido, como também a designada “técnica de golpe”, ativante ou desencadeante.

Um papel central desempenham as terapias de trabalho, em cujo limite o terapeuta convence o cliente, o instrui, o aconselha e discute com ele trabalhos lidos e escritos.

Szondi introduz métodos inovadores na sua terapia que denominou “giratório”, de “mudança”, de “desvio”, de “conversão”, de “socialização”. Através deles Szondi tenta tornar terapêuticamente fecundo o conceito destino-terapêutico   do “fatalismo manejável”.

Quando Szondi lutava para que o conteúdo dos impulsos compulsivos de repetição pudessem encontrar sua satisfação adequada numa profissão, se utilizava o que hoje é conhecido como “Reframing”.

 O único método terapêutico, usando a sua própria técnica, que Szondi descreve detalhadamente no seu manual é o chamado “terapia de psicochoque”. Em determinados pontos, no transcurso de uma análise  ou  de  uma   terapia   breve,  Szondi   pega,   da   cadeia  de   associações   que  o  paciente

proporciona, dos seus sonhos ou recordações, dos acontecimentos de sua história, palavras-estímulo e as expõe aos cliente, de surpresa, com uma voz enérgica, de maneira repetida. Assim as palavras são repetidas rapidamente como golpes de martelo.

Para tornar conscientes as manifestações da vida do inconsciente familiar, introduz também outras formas de confrontação terapêutica, que vem por exemplo da conexão com a terapia Gestalt ou a Bioenergética, assim como de outras terapias vivenciais.

Szondi considerou os transtornos da fé como distúrbios do ego, assim recomenda que uma terapia de destino deve, sempre que seja possível, desembocar na análise da função de crer. Não considerar esta recomendação ele considera como a “maior falha profissional que se pode fazer numa análise”.

Através do ego o homem é capaz de crer, isto é, de estabelecer relações com o espírito ou com Deus. A fé ajuda o homem a avaliar a mais ou a menos a sua própria força. Dito de outra maneira, um homem que crê se organiza na estrutura cósmica em um grau mais alto do poder ser, e aí encontra o sentido da vida.

A análise da função de crer, a análise total do ego, considera Szondi como um acompanhamento consciente no caminho quando escreve: “Através da educação do paciente a uma correta distribuição da força, isto é, a uma elevação baseada num sistema de valores completamente novo de ideais no ser e no ter, se tornará capaz de socializar e humanizar.

Juntamente com sua doutrina de ego pontífice, introduz Szondi a análise da função do crer na “psicologia religiosa”!

Segundo Szondi, as únicas escolas que atuam numa direção propriamente de psicologia profunda são aquelas que se especializaram nas formas de expressão e comunicação da alma humana.

Szondi indica a psicanálise como a linguagem do sintoma, a psicologia analítica de Jung como a linguagem do símbolo e a análise do destino como a linguagem das escolhas.

Assim se compreende a intenção de Szondi quando da formação de seus terapeutas, os terapeutas do futuro se tornarão confiáveis tanto nas abordagens psicanalíticas como nas abordagens Junguianas, trio do destino humano.

 

3.5.                   Limites da relação terapêutica

O homem traz em si, também, impossibilidades, isto é, formas de existência que de nenhum modo poderá mudar na realidade...

O terapeuta deve pois possuir a sabedoria de separar o possível do impossível, o realizável do irrealizável. E isto é frequentemente difícil, com estas palavras adverte Szondi das fronteiras da terapia destinoanalítica, quando pretende encorajar o homem e  levá-lo a uma eleição mais consciente e mais livre nas suas potencialidades de existência.

Há numerosas limitações no processo terapêutico que vem das relações sociais de poder num mundo no qual vive tanto o cliente como o terapeuta, assim como disposições fechadas irreversíveis, e particularidades constitucionais.

A análise do destino salienta especialmente que o que se fundamenta no parentesco eletivo, na ressonância afetiva mútua (participação) entre o terapeuta e quem busca ajuda, constituem as bases de um trabalho terapêutico conjunto... “não é a técnica que cura, mas a relação humana mútua entre o analisando e o terapeuta”, isto foi retomado por Szondi, se não há a participação recíproca, o processo terapêutico se estabelece entre fronteiras muito estreitas.

Outra limitação terapêutica vem da falta de atenção à moral da situação do homem. Um trabalho terapêutico genuíno de liberação vai de mãos dadas cm relação à situação real do homem no mundo.

Também se limita a efetividade do trabalho terapêutico quando os conflitos não resolvidos do psicoterapeuta  interferem  de  uma  maneira  descontrolada  nas  áreas  problemáticas  da  vida  do  paciente.  Por isso insiste a análise do destino que o terapeuta, durante a sua formação, estude todas  as  vertentes  da  psicologia  profunda e na necessidade de sua própria análise durante vários

anos (análise didática) e que se preocupe constantemente pela humanização de seus próprios feitos e valores.

Não existe uma má psicoterapia, mas sim um terapeuta que não realizou uma correta terapia nos clientes.

A diferença está no humano em nós e em nossa terapia. A reorganização terapêutica e a identidade psico-social formam uma unidade funcional. A ajuda terapêutica se torna difícil quando existe  um

abismo intransponível entre a prática terapêutica e sua teoria inerente e a concepção do mundo de um lado, e a posição de valores e expectativas daqueles que procuram por ajuda de outro.

A discrição, como postura terapêutica, segundo o ponto de vista de Szondi, faz crer que a relação terapêutica, e também a razão, significam um enigma que se subtrai amplamente à penetração racional.

 

4.                        A Psicologia do Destino como psicologia das polaridades

Szondi concebe a vida humana, primeiramente, como uma constante mudança, como um vir a ser, como circulação e dinâmica. O destino, a história de vida do homem, é a história de suas trocas.

A dinâmica da mutação é o jogo dialético de transformação das suas polaridades complementares. Szondi vê todas as manifestações da realidade psíquica e anímica, o planejamento, formação e  estruturas de vida, como o resultado do jogo, conjunto dinâmico de polaridades que se condicionam mutuamente. O que não se coloca, as estruturas relativamente estáveis do mundo psíquico e anímico, é, na realidade, somente um fenômeno de transição parcial e episódico de um processo clínico. As formas de vida, suas manifestações, formas e figuras no mundo psíquico são, no fundo, manifestações de um equilíbrio dinâmico entre polaridades relacionadas umas com as outras... O aparentemente inalienável é, de fato e na verdade, um estado de transição.

A Psicologia do Destino de Szondi está marcada pelo convencimento intuitivamente adquirido de que, em cada par de contrários (polaridades), os pólos são atraídos irremediavelmente um ao outro e formam uma unidade. Segundo Szondi, não vale pender unilateralmente ao bom e desprezar o mau, mas é melhor perceber o bom e mau como dois extremos da mesma totalidade e mantê-los em um equilíbrio dinâmico. Quando um pólo cresce o outro decresce, quando um diminui o outro desabrocha.

O terapeuta do destino descobre a missão na vida do homem e no seu caminho em direção da humanização, isto é, o não separar suas polaridades internas, mas deixá-las numa relação complementar e finalmente levá-las a uma unidade conciliadora. No caminho da humanização não podemos esquecer o que pode acontecer-nos quando dependemos de uma só polaridade. A doutrina das polaridades nos dá uma importante compreensão da psicologia do destino para a saúde e a doença.  O homem saudável é aquele que conduz as dualidades anímicas numa relação de oposições complementares e sabe manter seu relativo equilíbrio. Quando o homem não pode resistir à tensão do jogo simultâneo das polaridades complementares, se originam contrariedades dualísticas, que o podem levar a sofrimento e doenças.

O “homo humanus” (homem humanizado) é, segundo Szondi, um homem que alcança a integração das suas polaridades, que consegue até o ponto de colocar suas contradições na esfera da “concidentia oppositorum” (derrota da oposição) e, com isto, a superação e liberação do dualismo.

 

5.                        A Psicologia dos Sonhos

No campo da terapia participativa dos sonhos, segundo Szondi, o homem sonha espontaneamente com o seu lado não vivido, com seu “hinterganger” (“sombra” para Jung), com o colocar-se em contato com ele para integrá-lo de novo e apropriar-se das suas possibilidades. Em outras palavras, trata de voltar a tornar-se uno com o homem alienado e separado de si mesmo.

No sonho o homem é ao mesmo tempo diretor e ator. O sonhar é uma participação “autógena”, e uma  intenção  de  integração  do  homem  que  perdeu  sua  totalidade  original. Szondi conclui, da compreensão cênico dramática do sonho, que significa ser propriamente curativa não só a interpretação do sonho, mas o voltar a viver o sonhado na vigília.

Já que Szondi considera também as possibilidades de existência separadas, não vividas e insatisfatoriamente realizadas como “tendências dos antepassados”, que vem do inconsciente familiar, e os sonhos significam muitas vezes o encontro com os antepassados, então Szondi fala de “sonhos de antepassados”.

Nos sonhos dos antepassados o homem que sonha percebe, mediante o encontro com as figuras do sonho, quer sejam saudáveis ou doentias, suas próprias possibilidades de um ulterior desenvolvimento  ou  de  uma  ameaça  existencial.  O  homem  se  desenvolveu  de  uma  maneira

especial com cada possibilidade de doença ou de progresso na história familiar que foi vivida e repetida por muitas gerações de antepassados, quer seja igual ou numa forma semelhante.

A Psicologia do Destino mostra uma compreensão tridimensional do sonho baseando-se no modelo das teorias de Freud, Jung e Szondi. Já que o “hinterganger” encontrado pelo sonhador está numa relação de troca entre o reprimido pessoal, as partes arquetípicas e as familiares, tanto do inconsciente pessoal, como do coletivo e do familiar.

A atualidade de Szondi no campo terapêutico sobre os sonhos mostra que suas contribuições tem sido aceitas em geral e desenvolvidas por outras escolas, assim por exemplo: entre a compreensão destinoanalítica e a terapia da Gestalt dos sonhos há uma coincidência até nas particularidades da formação teórica. Os modelos terapêuticos das teorias holísticas e transpessoais apontam, já no futuro, a um ulterior desenvolvimento da investigação destinoanalítica dos sonhos.

 

6.                        Caim e Moisés – Figuras simbólicas da existência

A polaridade de “Caim e Abel e sua integração na figura de Moisés” tem um significado especial, já que a concepção destinoanalítica de sua ação criadora dá origem à aquisição da consciência, da ética, e da Lei para proteger a vida.

A “disposição de matar” do homem, o “mau”, vem de Caim; a necessidade da consciência, o estabelecer leis está simbolizado por Moisés. Estas figuras bíblicas são símbolos do destino humano, que por sua natureza polarizada, complementar e integrante, se correspondem intrinsecamente. Em cada Caim há um Abel e, em cada Abel há um Caim.

A perspectiva destinoanalítica única e a mesma dinâmica dão origem à transformação do destino de matar, de Caim, ao conseqüente reconhecimento de culpa e o impulso à reparação, de Abel, até o estabelecimento da norma ética contra o matar, de Moisés.

 

7.                        A teoria da Agressão na Análise do Destino

O sistema pulsional quadrimensional da Psicologia do Destino. dirigido para as quatro esferas da vida, forma o ponto de partida de uma tipologia diferenciada da conduta agressiva.

A Psicologia do Destino diferencia quatro maneiras ou qualidades da agressão humana, ainda que tenham seus próprios condicionamentos e suas energias específicas, podem ligar-se umas às outras de várias maneiras:

           1 – A agressão condicionada pelo prazer se manifesta como sadismo sexual, masoquismo e sadomasoquismo.

           2 – A agressão Cainita, condicionada pelo afeto, se nutre das energias afetivas e se manifesta por ações afetivas, por meio de ataque, ao qual, a maioria das vezes, segue a fase de querer fazer o bem.

           3 – A agressão do ego, que tudo nega, inclusive  o mundo e a si mesmo.

           4 – A agressão pela frustração é baseada em não lhe ter sido dado o limite, e em não ter sido levado em conta na vida social e de contato. Nos casos extremos pode levar a ações terroristas e chamadas de retribuição e deliberação na representação de classes sociais, povos e nações subjugadas.

 8.                        Conclusão

Em poucas páginas, apresentamos de maneira abreviada as bases, métodos e postulados da análise do destino.

Vamos de novo, como conclusão, às palavras de Szondi:

“Dizemos, destino é escolha e diferenciamos duas classes de ações escolhidas: primeiro as inconscientes, aquelas guiadas pelas disposições herdadas. Aqui nos guiam os impulsos inconscientes na escolha do amor, da amizade, da profissão, da doença e da morte.

Tomamos a parte do destino que através das figuras antepassadas latentes se realiza inconscientemente, o destino pulsional obrigatório. Seguindo as ações escolhidas conscientes guiadas pelo ego individual da pessoa, esta parte do destino é nosso destino pessoal escolhido.

A verdadeira análise do destino como terapia consta, portanto, vista de uma maneira teórica, das seguintes fases: a primeira fase é o conscientizar e o confrontar os pacientes com os impulsos antepassados reprimidos, esta fase é a análise do destino obrigado. A segunda fase é a análise do ego e da função de crer, isto é, a análise da conexão do ego com o espírito. Esta fase corresponde portanto, à análise do destino de escolha.

A tarefa do analista do destino consiste, portanto, em tornar consciente o obrigatório na eleição das ações do cliente, em mudar o destino da pessoa mediante a formação e fortalecimento do ego, na direção de um destino de escolha consciente”.

 

 

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