L. Szondi


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Origens e dificuldades da dialética do vetor contato

Christian Papilloud

Instituto das Ciências Sociais e Pedagógicas

Universidade de Lausanne

O contato constitui sob várias considerações a arqué da vida humana. Lugar do movimento biológico primário, ele aí se manifesta, um desejo absoluto de existir que nos mantém na vida.

Primeira pulsão ( vetor ed. ) do teste Szondi, o contato, tomado no sentido psicopatológico, reflete as perturbações da ritmicidade e do humor (‘Stimmung’ ). É neste nível que aparecem os distúrbios maníacos, toxicomaníacos e depressivos simples, isto é, não complicados pelos elementos psicóticos, neuróticos ou perversos.

Do ponto de vista antropológico, o contato refere ao domínio das relações humanas no mundo. Neste ambiente onde se unem a biologia, a psicologia e a antropologia, descobrimos ainda uma dimensão filosófica com a presença da dialética, verdadeira dinâmica das pulsões. E’ neste último ponto que criaremos o eixo do nosso propósito, partindo da dialética do contato para chegar ao problema mais geral da dialética em Szondi.

O estudo da dialética do contato exige um retorno às fontes principais de que se utiliza Szondi para descrever-lhes os contornos. Elas são dirigidas à pesquisa do lado da psicologia húngara, nos escritos de Imre Hermann, Michael Balint e Alice Balint, que investigam os primeiros momentos da vida humana. Observaremos como estes autores atingem a concepção de um fundamento relacionado ao ser humano. Mostraremos em seguida, como Szondi retoma estas análises para propor a sua interpretação crítica. Poderemos assim compreender como ele chegou à concepção do vetor de contato, e em que a dinâmica que o sustém é uma dialética cíclica. Terminaremos por uma breve evocação de alguns problemas ligados à utilização paralela da dialética e do Ego-Pontifex em Szondi.

1. Origem do contato : trabalhos dos psicólogos húngaros.

Fiel à tradição da psicologia húngara, Imre Hermann interessa-se pelo desenvolvimento da vida humana nascente. Conduz este empreendimento em colaboração com Michael Balint e sua esposa, Alice Balint. Todos os três partem de uma consideração comum, a saber que as gratificações demandadas pelo paciente ao psicanalista ou ao seu círculo são fenômenos de transferência. A manobra para o paciente consiste em poder direcionar as frustrações que poderão resultar, o que M. Balint chama de ‘renovação’ “[…] capacidade de manter uma relação de objeto confiante, tranqüila, permitindo o abandono e liberta de qualquer suspeição.”. (M.Balint, 1972 : 273 ). Para os autores, os comportamentos análogos à ‘renovação’ podem ser levados às experiências infantis precoces, remetendo aos processos psíquicos da criança. Hermann e os Balint vão desenvolver esta hipótese a partir do seu domínio específico de pesquisa. Trata-se da teoria psicanalítica da sexualidade para M. Balint, da pedagogia comparada para A. Balint e da psicologia comparada dos primatas para Hermann. Brevemente expomos os resultadoas a que chegaram.

Hermann observa que o pequeno primata passa os primeiros momentos da sua vida extra-uterina encostado ao corpo da sua mãe. Observa que a situação em que se encontra o recém-nascido humano é bem diferente. Este último é separado desde o nascimento do corpo da sua mãe. Disto Hermann deduz que o ser humano vai desenvolver ao curso do seu crescimento, condições substitutivas para reencontrar a unidade perdida junto a mãe. Vai encaminhar-se em direção dos objetos que o cercam e aí vai encostar-se. Esta tendência à união pode evoluir em direção à ternura por atenuação (carícias, toques ), ou em direção ao sadismo pelo aumento de uniões consecutivas com diversas frustrações.

As observações de Hermann encontram um eco nos trabalhos de Balint. Ele observa que no nível da relação mãe-criança manifestam-se igualmente fenômenos de união, tais como as trocas de carícias e de toques.

As constatações de A. Balint lançarão as bases do conceito do ‘amor primário’ de M. Balint. O amor primário é uma “[…] relação de objeto onde apenas um dos parceiros pode fazer demandas e ter exigências ; o outro parceiro ( ou os outros parceiros, isto é o mundo inteiro) não deve ter nem interesses, nem desejos, nem exigências próprias. Há e deve haver uma harmonia total. Isto é, uma perfeita identidade dos desejos e das satisfações.” [ M. Balint, (1959) 1972 : 23]. Esta relação, praticamente não libidinosa, supõe da parte da criança o estabelecimento de uma reciprocidade com o mundo que o cerca. “Estabelecer esta reciprocidade, por sua vez, significa tolerar tensões consideráveis e manter uma prova de realidade firme e segura. É o que chamei de trabalho da conquista.” (M.Balint, 1972 : 149). Balint concluiu que o amor primário é o ponto nodal e o primeiro momento pós-natal a partir de que se desenvolverá o psiquismo humano.No nível clínico, este momento se traduz pela posição depressiva, a mais fundamental e a mais primitiva de todas as posições páticas, segundo o autor.

Duas noções propostas pelos psicólogos húngaros, e aprofundadas por M.Balint [ M.Balint, (1959) 1972 : 28], cristalizam o conjunto dos seus resultados, são:

· o filobatismo : fato de estar liberado aos seus únicos recursos, de manter-se em pé, em independência. O mundo do filobata é um conjunto de espaços amigos mais ou menos semeado de objetos perigosos e imprevisíveis, cuja aparição o filobata vigia e dele guarda distância. O filobata sente prazer em soltar objetos antigos para encontrar os novos (‘auf Suche gehen’) ;

· a ocnofilia : fato de ser mantido pelos objetos, de unir-se a eles (‘sich anklammen’). A ocnofilia aceita os objetos, por outras palavras, que lhe são necessários e que não devem escapar do seu controle.

M. Balint [M.Balint, (1959) 1972 : 56] precisa que estas duas noções não são opostas. A

ocnofilia e o filobatismo são ligadas por uma ambivalência que existe, aliás, não importa qual a relação com o objeto. E’neste ponto preciso que a perspectiva de Szondi vai distinguir-se daquela dos psicólogos húngaros. Retomando por completo os trabalhos dos seus colegas, Szondi vai com ele propor uma nova concepção, por sua vez, sistemática e dinâmica, o que vai tornar-se a pulsão dialética do contato.

2. A pulsão dialética do contato.

Como dissemos acima, Balint concebe o amor primário a partir de uma relação de ambivalência,

tensão que representa a interdependência entre o filobatismo e a ocnofilia. Segundo o autor, esta

ambivalência decorre do estatuto ideal das atitudes filobatas e ocnófilas.Estas atitudes não existem realmente ; apenas tendências à ocnofilia e ao filobatismo são notadas no nível dos comportamentos humanos, uma, afirmando-se mais do que outra, graças às situações existenciais vividas pelos indivíduos.

A posição de Szondi é mais radical. Lá, onde os psicólogos húngaros vêem a ambivalência, Szondi assinala oposições entre tendências próprias aos doentes que afetam as pulsões.

Retornando às noções de filobatismo e de ocnofilia, delas conservará finalmente apenas o sentido e o precisará na ótica de uma pulsão do contato. E’uma primeira diferença teórica entre Szondi e os autores em que se inspira. Podemos compreendê-la melhor confrotando as posições respectivas de M. Balint e de Szondi sobre a dependência e o abandono.

Na segunda parte do seu livro, “As vias da regressão”, “[ (1959) 1972], M. Balint mostra que durante os primeiros momentos da vida humana, os elementos constitutivos do psiquismo são quase a-estruturados, ou para retomar o vocabulário do autor, pré-ambivalentes . A independência e o abandono, se existem como tendências, não se manifestam ainda, enquanto tais.

No momento da dissociação relativa eu-mundo, sinônimo para Balint da aparição dos objetos, produz-se uma ambivalência caracterizada pela aparição das tendências à dependência e ao abandono, entre as quais se etabelece uma realção de proporcionalidade. A criança transporta-se em direção às coisas do mundo, às quais ela se apegará mais ou menos fortemente e que abandonará proporcionalmente mais ou menos rapidamente, para ir em direção de outras coisas. De um estado de equilíbrio inicial, onde nenhuma das duas atitudes incide a seu favor a relação que a une à outra, passamos pois, a um estado de desequilíbrio proporcional. Szondi interpreta de outro modo. Observamos, debruçando-nos sobre a noção do ‘inconsciente familiar’ e a abordagem genotrópica que ele promove.

No “Diagnóstico experimental das pulsões”, ( 1952), Szondi indica que todas as pulsões se enraizam nos ‘genes pulsionais’ ” (L. Szondi, 1952 : 4). Por ocasião da quarta conferência publicada na “Introdução à análise do destino” (1972) e intitulada “A genética do destino”, Szondi vai mais longe, afirmando que o inconsciente familiar é “[…]a estrutura hereditária particular do indivíduo […]” (L.Szondi, 1972 : 78) . O elo que estabelece entre ‘genes’e ‘inconsciente familiar’ permite-lhe consolidar sua concepção biológica do inconsciente, de chofre localizado no seio do sistema nuclear. Este localismo induz a uma concepção atomista dos componentes genéticos da pulsão. Há pluralidade de genes, e há, de modo concomitante, pluralidade de potencialidades existenciais na origem da vida, pois que no mundo atomizado de Szondi, cada gene é portador de uma disposição, de uma maneira de ser possível, cuja finalidade é de reproduzir um estado psíquico hereditário. Szondi distingue cuidadosamente estas disposições, umas das outras, e reagrupa, duas a duas, as que se opõem entre elas. Estes pares disposicionais antagônicos condicionam os “ pares pulsionais antagonistas ”(L.Szondi, 1952 : 4 ).

A hipótese genética de Szondi confirma pois, o princípio das oposições entre as tendências dos fatores pulsionais e entre estes mesmos fatores. Ela supõe igualmente a existência do elo que une os pares de disposições e os pares de pulsões ; este elo é uma dialética. A unidade entre genes, disposições e pulsões é assegurada em última instância pelo fator de unidade ” (L. Szondi, 1972 : 116), princípio de relação e de equilíbrio total da vida que se tornará, sob a pluma do autor, o Ego-Pontifex. Este princípio gera a ele somente a tensão pulsional que dinamiza todas as ações pulsionais.

Estes diferentes pontos da doutrina szondiana podem ser, assim sintetizados : (L. Szondi, 1952) :

· as pulsões são condicionadas por genes específicos ; Szondi descarta-se das perspectivas adotadas pelos psicólogos húngaros, quando coloca a genética na base da sua doutrina das pulsões ;

· existe a polaridade das aspirações e das necessidades pulsionais ; este princípio de oposição rompe com a ambivalência da dupla filobatismo/ocnofilia ;

· existe uma tensão pulsional que assegura o dinamismo de todas as ações pulsionais ; a afirmação do Ego-Pontifex, cúpula da doutrina szondiana das pulsões.

Divergências entre Szondi e os psicólogos húngaros encontram-se ainda na denominação que Szondi escolheu para qualificar o que M. Bilant chamava de o mundo primário. Szondi identifica-o como o mundo do contato, cujas enfermidades hereditárias, os fatores pulsonais, são a depressão e a mania, que ele simbolizará no seu teste pelas letras d e m. As tendências

opostas associadas às doenças do contato podem então serem descritas como segue:

a tomada : m+

a retenção : d- ;

a procura : d+ ;

o abandono : m- .

No nível szondiano do contato, não existe pois interdependência entre as duas atitudes de dependência e de abandono ; existe uma oposição entre tendências herdadas, unidas por uma relação dialética, e assumidas por um princípio de equilíbrio do ser vivo, o Ego-Pontifex.

M. Bilant postulava um desenvolvimento da criança no sentido de uma perda primária do equilíbrio, cada vez reencontrado na proporcionalidade balanceada das atitudes filobatas e ocnófilas. Szondi tem apoio na genética para descrever as vias do desenvolvimento humano em fases sucessivas de equilíbrio. Disto decorre uma outra originalidade de Szondi, que nos introduz mais adiante no universo do vetor de contato : a quase-ausência do objeto, característica fundamental dos primeiros tempos da vida humana. A exposição das razões que levaram Szondi a conceber uma quase-ausência do objeto no nível do contato, nos levará a considerar a forma do contato É um ciclo que está além do sentido da dialética sobre a base da qual este vetor se articula.

3. O sentido cíclico da dialética do contato.

O estado de ambivalência descrito por M.Balint supõe imediatamente a presença do objeto. Esta prioridade do objeto é posta em discussão por Szondi a partir da sua concepção do contato.

No nível do contato, a vida oferece-se menos tensa para o mundo do que no movimento inerente que a caracteriza, a saber, a impulsão. A impulsão é uma das raízes etimológicas da palavra alemã ‘Trieb’, e confere à pulsão um sentido diferente daquele que Freud lhe havia referido. Lembramos que para Freud, as pulsões são as necessidades imperiosas do aqui, que representam, no psiquismo, as exigências de ordem somática. De natureza conservadora, elas são

“[…] causa última de toda atividade (...).” [ S.Freud, (1949) 1985 : 7).

Para Szondi, “As pulsões são instintos imperfeitos.” (L. Szondi,1972 :111).Elas têm um destino autônomo que influi sobre a formação existencial do destino humano. Esta concepção da pulsão permite a Szondi situar a dinâmica das tendências fatoriais, não mais no nível meta-

psicológico do aparelho psíquico freudiano, mas num nível existencial, o do destino humano.A base deste destino não é mais uma relação de objeto investida de energia libidinal, mas um movimento que não tem outro fim, senão ele-mesmo. Assim fazendo, Szondi decifra um mundo de vida ante-sexual, e descobre ao mesmo tempo o campo das energias plurais que ‘crescem’no homem. A energia libidinosa freudiana não é mais a energia psíquica única, de que Balint conserva ainda a lembrança através da sua concepção do mundo primário. Existe mais, porque há originariamente contato.

Movimento, impulsão, o contato possui uma forma cíclica. A depressão e a mania são seus reveladores por excelência, pois que estas enfermidades manifestam-se por fases crescentes e decrescentes. O ciclo do contato é ainda revelado pela ordem, seguindo o que Szondi refere ao nível dos fatores assinalados :

d+ : movimento iniciador do ciclo, onde a busca do objeto deve satisfazer a necessidade de ter um deles ;

d- : movimento que se encadeia ao primeiro, onde o sujeito cola ao objeto encontrado ;

m+ : movimento de agarrar-se ao objeto para assegurar-se da sua posse ;

m- : termo final de qualquer relação objetal , em que o sujeito se desprende do objeto.

Como o demonstra esta apresentação dos fatores do contato, o objeto é pré-suposto no movimento iniciador do ciclo, mas não aparece verdadeiramente senão em d-. Portanto é bem o movimento que, mais do que o objeto, constitui o topos fundador do vetor C. O encadeamento dos fatores segundo suas tendências positivas e negativas reflete sua temporalidade cíclica, e descobre o sentido que aqui toma a dialética. O ciclo, forma do vetor contato, é ao mesmo tempo

a significação da dinâmica dialética que o anima.

4. Discussão. Dialética do contato e Ego-Pontifex.

Resumimos o que tentamos pôr em evidência até aqui. Contrariamente à teoria do mundo primário, proposta por Hermann e o casal Balint, Szondi debruça-se sobre a genética que condicionará desde então o conjunto dos desenvolvimentos transportados pela ‘Schilcksalsanalyse’. Do ponto de vista de Szondi, não existe mundo primário.Existe uma pluralidade de genes e de disposições de tendências opostas, bases de todas as pulsões e portanto da pulsão do contato. Por conseqüência, e contra Freud, Szondi afirma que não existem duas pulsões (a pulsão da vida e a pulsão da morte) e uma energia vital (a energia libidinosa), mas quatro pulsões e muitas energias vitais. A pulsão do contato é a pulsão primária, no sentido em que é ela o lugar do movimento originário da vida. A energia que a anima, não investe imediatamente um objeto ; é antes de tudo um ímpeto de liberdade, ponto de partida de um destino, humanizando progressivamente o mundo. Ao nível do contato, este movimento tem um sentido cíclico, o que torna presente a dialética do contato :

no nível das tendências pulsionais : a dialética une os signos positivos e negativos dos fatores pulsionais:

no nível dos fatores pulsionais : ela une a mania e a depressão no seio do vetor C.

De acordo com a aproximação szondiana do contato, o homem participa, pois, de súbito, do movimento da vida, a que ele contribui para orientar segundo suas próprias opções. Saída da pluralidade biológica, a vida surge de uma escolha, como que fazendo sentido pelo todo dialético que ela representa, e que sistematiza, in fine em Szondi, o Ego-Pontifex. Mas uma questão, no entanto, se coloca, a saber, a da coabitação de dois princípios relacionais, igualmente necessários à doutrina szondiana das pulsões. Por que Szondi supõe, ao mesmo tempo,um elo dialético e um princípio superior, de integração de todas as dialéticas, omnirelacional,o Ego-Pontifex ? Encontramos bem na dialética, uma relação que estrutura o movimento pulsional. A teoria das escolhas destinadas une-se aqui, pois que ao longo de toda a sua vida o ser humano escolhe. Tal é sua maneira de interferir nos momentos cruciais da sua existência para desfazer e refazer as dialéticas, inferindo assim o curso do determinismo genético a que está biologicamente vinculado. Mas Szondi não explica como e porquê, a dialética torna-se, não obstante, submetida ao Ego-Pontifex, que (re)opera todos os elos e (re)conduz todas as ações pulsonais. A dialética, não está ela, desde então condenada a repetir a atividade do a priori transcendental ? Não cai, assim, na classe puramente formal de um elo abstrato, cômodo para sistematizar a doutrina szondiana, conforme a um princípio lógico de inclusão transitiva ? O que resta então da vitalidade do movimento que ela, no entanto, parece traduzir ? O autor não se posicionou sobre estas questões. Interroga-se pouco sobre o movimento vital em geral, e sobre a dialética em particular, mesmo se aí vê o lugar das questões prioritárias.

Talvez estejamos errados ao colocar as questões deste modo. Fazemos pois o raciocínio inverso e admitimos a maneira pela qual Szondi vê as coisas. Partimos do princípio de que há um Ego transcendental, integrando todas as dialéticas e dinamizando toda a vida pulsional. A conseqüência deste raciocínio nos levaria, entretanto, a atingir, em virtude das propriedades

do Ego-Pontifex, a uma teoria refeita da escolha dela-mesma. O ‘eu escolho’ szondiano tornar-se-ia um ‘eu não posso não escolher’ , isto é, eu não posso resolver, não decidir, e partindo do não unir. Assim generalizada, a escolha integra todas as dimensões da ação humana e contém implicitamente a tese de um genotropismo estrito, contrastando singularmente com a noção de liberdade, estimada por Szondi.

A igual necessidade que Szondi parece colocar nas noções de dialética e de Ego-Pontífex, é, pois, problemática. Pode chegar à formalização da dialética, ou a uma teoria de escolha refeita. Notamos que nos dois casos, permite ao autor, conservar sua aproximação genotrópica do humano. Mas esta ótica põe problemas de coesão no interior mesmo da doutrina szondiana, notadamente, se a relacionamos com as noções de destino-escolha e de existência, pintados de liberdade. O estudo da pulsão do contato talvez o revele com mais acuidade.Neste primeiro nível pulsional, a dialética não é nunca tão pouco redutível, pois que denota uma intersubjetividade livre, menos que uma lógica formal, expressão do ‘todo azimute’ da vida em geração, no seu relacinamento com o mundo. Os trabalhos da Escola de Louvain, em particular as análises de J.Schotte, vão destacar este problema, e tentar remediar,

reforçando o eixo antropológico da doutrina szondiana, e por conseqüência seu conteúdo intersubjetivo.Examinando as relações entre os fatores pulsionais, postos em evidência por Szondi, Schotte proporá uma teoria dos circuitos pulsionais que se desprende da perspectiva genética. Resta todavia, avaliar a aproximação proposta por Schotte, notadamente no que conserva igualmente as noções de dialética e de Ego-Pontifex. Parece inegável que um tal empreendimento deverá dar-se como ponto de partida, a análise da dialética do contato, pois que neste nível, os postulados, os mais arraigados da doutrina szondiana aparecem na sua fragilidade.

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Tradução de Maria Lucia de Carvalho Accacio.

São Paulo, 4 de agosto de 2000.

c 1996-2000 Leo Berlips, JP Berlips & Jens Berlips, Slavick Shibayev